sexta-feira, 29 de abril de 2011

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IMAGENS DE BELEZA:  

SORRISO  SEM-VERGONHA  DE BEBÊ
SOL FURANDO  O  CÉU  NUBLADO  AO  FIM  DO  DIA
SENSAÇÃO  DE  CORPO  CANSADO  APÓS  UM  DIA DE  TRABALHO
DOIS ORGASMOS
A  LEVEZA  DE  DEUS  ARMANDO  SUAS  HISTÓRIAS 
UM BRINQUEDO
UMA  ESTÁTUA
A IMPLOSÃO  DE UM EDIFÍCIO
FOTOGRAFIAS  DE GALÁXIAS,  PLANETAS,  ESTRELAS
O  CORPO  QUE RESPONDE  AO  PENSAMENTO  SEM  ATRASO 
TRAÇOS  PRETOS  SOBRE  PAPEL  BRANCO
PINCEL  MOLHADO  EM  TINTA SOBRE  TELA  ESTICADA
OLHOS ABERTOS
ALMA LIGADA
PALAVRAS  VERDADEIRAS 
DANÇAR COM A MULHER
CIDADES  ANTIGAS
CAMINHOS  FEITOS  POR  FORMIGAS
OUVIR UM DISCO QUE  NÃO OUÇO  HÁ  DEZ  ANOS  
PALAVRAS  BEM  ESCOLHIDAS
SABOR DE CERTO MEL ESCONDIDO.


quinta-feira, 28 de abril de 2011

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É COM PALAVRAS QUE ENFRENTAREI MEU CAOS.

FOI DITO NOS PRINCÍPIOS QUE A PALAVRA PROFERIDA  DEU EXISTÊNCIA A GARÇAS,  LAGARTOS  E  AMEBAS. E QUE O HOMEM,  SER  DERIVADO DE SONHOS  E MOLDADO EM LAMA,  ERA NAQUELAS  ERAS  O DETERMINADOR DE SIGNIFICADOS – OS SONS DO PALATO E DA LÍNGUA E DOS DENTES DE ADÃO SE CASAVAM COM OS SERES E OS REVESTIAM DE MAIS DEFINIDA  REALIDADE. ESTRANHA CONSTATAÇÃO: ESTE TEMPO EM QUE VIVO E ESCREVO É ABARROTADO DE PALAVRAS  QUE JÁ NÃO SIGNIFICAM,  ANTES DESPISTAM  O  SENTIDO.  SETAS  TORTAS.

MAS  HÁ  ALGO  DE  PODEROSO NA AFIRMAÇÃO  DE  QUE  UM  LIVRO  É O CAMPEÃO  DO  CAOS. PALAVRAS VENCENDO O CINISMO QUE SE TORNOU INERENTE  A  ELAS .  AO LÊ-LO, É COMO SE NOS JOGÁSSEMOS NUM  LUGAR  ÁSPERO E PRIMITIVO, COMO LOMBO DE CAVALO. O AR ALI É DENSO, AS PESSOAS, PURAS – NÃO BOAS.  OS CONFLITOS, SIMPLES. NENHUMA TENTATIVA DE NOS CONVENCER DE HEROÍSMO ALGUM. HUMANIDADE PODEROSA  E  ENLOUQUECIDA, MAIS E MAIS. É O LIVRO QUE QUALQUER ESCRITOR VERDADEIRO SONHA EM ESCREVER, MAS JÁ HABITA AS ESTANTES. O QUE NOS RESTA? CONTAR HISTÓRIAS DA ÚLTIMA HORA OU SE CONVENCER DE QUE NADA DO QUE ALI SE ENCONTRA SEJA DIGNO DE ATENÇÃO -- FAZER BIRRA...

EU PENSO ASSIM: O LIVRO JÁ FOI ESCRITO SOBRE PEDRA, PELE E PAPEL. VOU DIZER PALAVRAS SOBRE O QUE O LIVRO TEM ESCRITO EM MIM.




sábado, 23 de abril de 2011

murro

As páginas onde deposito estas e outras tolices precisam ser de barro e fogo. Ou não me sustentarão, ora! Quem escreve em suaves sedas? Decerto que eu não! Houve tempo, porém, em que buscava as palavras mais “nobres”, na ilusão de pertencer a alguma linhagem de sagrados ministros da escrita... vivia fantasias de pureza nas quais os temas que desenvolvia tinham de ser os mais “elevados”, “edificantes”, como se linhas sobre papel representassem qualquer escada de Jacó. Mas, graças aos tumultos próprios do ser em intensidade, descubro-me hoje com pouca paciência para aqueles jogos.

Pois já não sou um aspirante a palavreador. Tenho marcado sobre as superfícies – celulose, concreto, casca de árvore, pele viva e quente – tantas mentiras e pretensões e confissões sujas que nem a boca pode dizer de si ser mais carne que a letra. Falo como quem esmurra ou lambe. Escrevo à maneira de quem batalha ou come. Porque já perdi o cabaço das palavras. Seduzo as que quero e as faço ser o que meu apetite ordena. Quem escreve palavras não pode ser instrumento das palavras nunca.   


quarta-feira, 20 de abril de 2011

leque


Fiz este desenho sobre papel no ano passado e recentemente o colorizei no photoshop. Experimentei camadas e misturas de cores. A cor tem um poder e tanto... destaca as formas de um modo que o preto e branco não é capaz! Confesso, estou ficando apaixonado pela cor...



domingo, 17 de abril de 2011

uma dica



Vá em frente, onde as estrelas começam a endurecer sua luz. Daí a poucos passos, recite dois ou três versos de canções que você esqueceu. Quando tudo estiver pronto, assegure-se de que ninguém além de Deus ignora suas intenções. É batata! Boa sorte.  


segunda-feira, 11 de abril de 2011

wabi sabi

Wabi sabi é uma forma de beleza que se desenvolveu no Japão...

 Não, essas palavras realmente não definem wabi sabi. Eu mesmo não estou certo de que consegui captar o verdadeiro sentido dessa expressão de tradução improvável. Falam por aí que wabi sabi é algo como apreciar o detalhe insignificante, ou contemplar a ação desagregadora do tempo sobre a matéria. Então, Manoel de Barros é inequivocamente wabi sabi. Antoni Tapies também. Musgo em casca de árvore é. Certas frases de Guimarães Rosa são puro wabi sabi, não só os hai kais orientais. essa imperfeição no definir é outro exemplo de wabi sabi, que estabelece mais um espírito, um estilo, uma atmosfera, do que um padrão estético. Somos devedores dos gregos, que nos ensinaram a classificar e ordenar todas as coisas. Mas o Japão, que está entre nós há décadas já, confronta essa presunção de rotuladores com um modo de ver e produzir arte que está há léguas de distância do modo ocidental. Em música, seria uma linha improvisada displiscentemente, sem medo de errar, nem de guardar longos silêncios entre os ataques. Em culinária, seria a liberdade de testar novas combinações a cada jantar, com a possibilidade de os convidados acrescentarem algo único a seus pratos.

Imperfeito, incompleto, impermanente.

Algo com jeito de ter sofrido uns bons anos sob sol e chuva, como pátina de estátuas de bronze em praças públicas. Ou os vincos na face anciã.

terça-feira, 5 de abril de 2011

paleolítico

O poeta sírio Adonis falou estas palavras:

“Estamos entrando em uma nova época em que o homem retorna a um certo primitivismo. Não há nada mais além da cultura dos olhos e da cultura dos ouvidos”.

O bioquímico austro-húngaro Erwin Chargaff:

"A história mundial é um catálogo de atos de violência e de acidentes. É feita essencialmente de guerras, coroações, deposições e  revoluções que logo depois foram reduzidas a nada. Perante coisas tão medonhas, o belo não tem praticamente nenhuma chance."

O filósofo hindu-espanhol Raimon Panikkar:

"Esta suposta liberdade não é liberdade. É a suposta liberdade que me permite escolher entre dez marcas diferentes no supermercado? A liberdade não é uma liberdade de escolha entre ofertas determinadas - isso faria que nossa liberdade fosse maior à medida que a oferta fosse mais abundante. O consumo não é uma liberdade."

O escritor nigeriano Wole Soyinka:

"O problema do mundo ocidental é que ele idolatra a ciência e a tecnologia e submete a vida a esses ídolos."