quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

saul

Pedras, musgo. Nuvens, horizonte. Cordas, percussão. Saul acordava pedindo aos grandes espíritos que talvez governem o universo uma prova de seu poder. Milagres, Saul pedia. Sentado em padmásana, Saul acreditava que misturando o álef-beit com as sílabas sânscritas obteria a transcendência. Afinal, estava na trilha de grandes mestres. Talvez na de todos e, como bem disse um deles, na de nenhum.

Saul não era do tipo que veste bata indiana, ou que tatua logogrifos arcanos, nem curtia longos jejuns. Buscava uma síntese pessoal das escolas de mistérios, mas para consumo próprio. Não advogava: não profetizava: não pontificava. Via o Ein-Sof cabalístico como essencialmente igual ao Tao dos chineses e este, um outro nome para o indiano Brahman. Conhecia as sutilezas etimológicas e tinha profundo respeito pela complexidade conceitual dos textos sagrados – que lia no original.

Saul era o figura, o sábio, o estranho. Com o tempo e os títulos, virou citação frequente em artigos de estudiosos renomados. Deixou-se absorver pelas páginas até viver dentro delas.

Pedra, musgo. Nuvens, horizonte. Cordas, percussão. Saul se esqueceu do milagre ou não?


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