Houve tempo em que fazer o retrato de uma pessoa era tarefa para artistas profissionais. Apenas nobres, alto clero e burguesia ascendente tinham meios para financiar tais obras, que perpetuavam os rostos e atitudes idealizadas dos representados. Sabemos como era a face de Filipe II, conhecemos a expressão sinistra do papa Inocêncio e temos registrado o sorriso de uma mulher cujo retrato é muito mais importante para a História do que sua vida (mesmo seu nome é motivo de controvérsia). Ainda que alguns adoráveis rebeldes (como este) tenham pintado pessoas do povo, jamais saberemos quem esses eram, já que apenas serviam de modelo. Típico caso em que a personalidade do artista sobrepõe-se à da pessoa representada.
A máquina fotográfica forçou uma ressignificação da pintura, por um lado, e tornou mais fácil produzir retratos, por outro. Já não era privilégio de ricos ter sua imagem “eternizada”, mas tirar fotos ainda era um ritual complexo - o tempo de exposição necessário para que a luz impressionasse o filme era alto, o que exigia total imobilidade por parte dos retratados, ainda mais do que com a pintura, já que um movimento fora de hora poderia arruinar as pretensões estéticas de ambos, fotógrafo e cliente .
Hoje, com câmeras digitais portáteis é possível fazer retratos a todo momento. Já não se registra o próprio rosto por megalomania. Estamos presenciando a mais radical ressignificação do retrato: nem expressão místico-publicitária para poderosos, nem programa de domingo para famílias. Mas compulsão. Veja aqui.
Nenhum comentário:
Postar um comentário